Para pais refletirem: Vocês podem estar viciando seus filhos. O problema é sério!
- João Ferraz Filho

- 6 de ago. de 2019
- 4 min de leitura

No mundo atual estamos produzindo alienados sociais: crianças que passam horas nos celulares, ipads, tablets, notebooks, redes sociais etc. A tecnologia na mão das crianças, diferentemente do que muitos pais pensam, gera pessoas alienadas na esfera social.
Criança tem que se movimentar, brincar, criar, interagir com outras crianças e pessoas, não com as telas dos “gadgets”, gíria tecnológica para designar dispositivos eletrônicos portáteis.
Mas, lamentavelmente, os teclados dos aparelhos eletrônicos têm sido o prolongamento das mãos dos filhos.
Muitos pais, contudo, não são exemplo, porque não querem largar seus celulares, computadores e outros mecanismos para “navegar” na internet.
A família não conversa entre si, não tem lazer, não joga, não monta quebra cabeça juntos e, não bastasse, o “cala boca” para os pequenos mais desafiadores é dado através de um celular, tablet, computador ou televisão.
Acontece que impor limite não faz filhos infelizes. Limite, assim como a frustração, ajuda na construção do caráter, na introjeção de valores necessários para uma vida saudável psicologicamente.
Se dar limite te incomoda hoje, a falta de limite vai te atormentar no futuro. Aprende-se na interação. A tecnologia deve ser complemento.
Hoje temos uma intensa fabricação de produtos viciantes. Se por um lado combatemos as drogas, por outro, entregamos às crianças celulares e tablets com aplicativos que fascinam e podem estar criando viciados em tecnologia, com grave comprometimento cognitivo.
De quem é a culpa?
Dos fabricantes?
Dos desenvolvedores de aplicativos?
Das escolas de ensino fundamental super, hiper, mega aparelhadas com tecnologia de última geração?
Até chegar à fase adulta os pais é que devem decidir as escolhas dos filhos. Nascemos “Zero Km”, não entendemos nada de mundo, somos e fazemos o que nossos pais nos orientam, determinam e nos oferecem de exemplo. Daí a importância da família, hoje, bastante comprometida.
Experimentos científicos no campo da psicologia revelam que crianças que ficam privadas do uso de tecnologia, e substituem esse tempo por jogos interativos, recreacionais, caminhadas, leitura, enfim, orientações comportamentais, aumentam consideravelmente o nível de empatia e criam fortes habilidades sociais. Chegam ao ponto de se angustiarem com algo desagradável que presenciam.
Por conta dessas conclusões, no Vale do Silício – Califórnia/EUA, berço da tecnologia mundial, várias escolas “Low-Tech” (baixa intensidade tecnológica) estão sendo criadas. Nessas escolas, até atingir o ensino médio as crianças não têm contato com a tecnologia. Não têm celulares, nem tablets ou qualquer equipamento que conecte à internet e redes sociais. A conclusão é que a tecnologia nessa idade faz mais mal do que bem.
Nesse período de vida a criança deve ser estimulada a conviver, interagir, brincar, desenvolver a criatividade, a aprender fazendo exercícios manuais tais como, rabiscar, desenhar, pintar, escrever, fazer contas etc. Nessas escolas, a lista de materiais, obrigatoriamente, contém livros, cadernos e lápis nº2. Acreditem!
Os filhos de Steve Jobs, estudaram nessas escolas.
Na família Bill Gates, celulares para os filhos só após completarem 14 anos. Na hora do café da manhã, almoço e jantar, é padrão da família que os celulares, bem como a televisão, permaneçam desligados até o final das refeições.
Tim Cook, presidente da Apple, não recomenda o uso de redes sociais para as crianças.
Entendo que permitir o uso é um ato de insanidade e conivência com a disseminação da dependência tecnológica nas crianças. Para os “pais da tecnologia mundial” o padrão não é o que vemos por aqui. Eles perceberam que seus filhos estavam muito dependentes da tecnologia, alteravam o sono e viviam constantemente irritados.
Os adultos que melhor entendem a tecnologia dos celulares e dos aplicativos querem que seus filhos se afastem dela. Os benefícios das telas na educação infantil são quase que inexistentes porém, a possibilidade de gerar dependência, como as drogas químicas, é real.
Você ofereceria ao seu filho um cigarro de maconha, uma “carreirinha” de cocaína ou talvez, uma pedrinha de “crack” para ele se divertir, ficar quieto, não berrar e te deixar em paz por alguns instantes? Pois então, oferecer celular, tablet, internet para as crianças tem o mesmo efeito viciante. O assunto é sério!
Percebam a sutileza dos movimentos viciantes engendrados no mundo dos negócios, disseminando produtos de sofisticada tecnologia cada vez mais pensados e desenvolvidos para cativar, contagiar, enfim, escravizar na dependência da “net”. A tecnologia é, sem dúvida, importante para o mundo. Mas não basta ser importante, ela tem que ser propagada e ser vendida. Subliminarmente, a natureza viciante é materializada pelo fascínio dos avanços tecnológicos.
Novos aplicativos, atualizações, provocações de origem psicológica para se vender sempre mais é uma estratégia.
E é aí que os pais entram. Quando adultos, somos responsáveis por nossas escolhas, compramos o que quisermos, de acordo com as nossas vontades e necessidades. Mas a criança não tem esse discernimento. São os pais quem escolhem o que ela deve ter e fazer.
Ao presenteá-la com um celular, permitir acesso à internet e redes sociais sem, no mínimo, estabelecer critérios e limites, você se torna conivente com os fabricantes, desenvolvedores e distribuidores na simples tarefa de viciar seu filho. Por mais doído e difícil que seja, enfrente!
Se permitir for inevitável, estabeleça critérios e dê limites. Tire proveito dos avanços tecnológicos sabendo conversar com a criança fazendo com que ela entenda o porquê dos critérios de tempo, lugar e momento para utilização.
Compartilhe os dispositivos que ela acessa, converse sobre o que ela vê e o que ela entende do que está vendo.
Infelizmente a família parece ser um “produto” em extinção. É preciso darmos mais importância às pessoas do que à tecnologia. É preciso termos tempo para interagir, brincar, conversar, orientar e dar exemplos aos filhos. Os filhos precisam ter claro quais são os valores da família. O que esperamos deles e o que não toleramos. Frustrar filhos é uma excelente forma de construir pessoas de valor.
Queridos pais se vocês têm dificuldades para educar e orientar seus filhos em tempos atuais, saibam que não estão sozinhos. É uma tarefa nobre, mas que exige carinho, amor, conhecimento, paciência e determinação.
As dificuldades em dar limites geralmente decorrem da:
Incompetência – Por não saberem dar limites ao seu filho;
Ignorância – Por não saberem as consequências da falta de limite;
Acomodação – Porque dar limite, dá trabalho.
Peça ajuda de um Psicólogo
Por João Ferraz Filho




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